MTD-RJ: Histórico e Conjuntura

MTD-RJ: Histórico e Conjuntura

Federação Anarquista do Rio de Janeiro (FARJ)

O Movimento dos Trabalhadores Desempregados (MTD) é uma organização popular de trabalhadoras e trabalhadores desempregados, que se constitui em âmbito nacional e possui a centralidade de suas lutas na questão do trabalho. No Rio de Janeiro reorganizou-se a partir de 2008, ano em que fomos convidados a compor as fileiras do movimento para auxiliar em sua reconstrução. Este processo culminou no fórum estadual do MTD-RJ realizado no complexo da Maré e cujo resultado encontra-se definido em sua carta de princípios e em seu manifesto, traduzido ainda em práticas políticas e sociais concretas.

Com base nisto, o movimento afirma-se e define-se como mais uma força capaz de realizar por suas próprias mãos a transformação da realidade, que é cheia de desigualdade, exploração, injustiça e violência: organizando núcleos de ação comunitária para a mobilização política e cultural dos moradores, geração de trabalho cooperativo, de renda, e de alternativas para moradia popular (organização de ocupações urbanas e assentamentos). A partir da articulação entre os núcleos de base, geridos pelos moradores das comunidades inseridas na organização no Rio de Janeiro, o MTD busca ainda ações integradas com os demais movimentos populares para a resistência contra as políticas dos governos e da elite econômica (em atos, manifestações e ocupações) que afetam a classe trabalhadora.

Defendemos como anarquistas dentro do movimento, que a aparente falta de habilidade do povo para a luta, muitas vezes sublinhada pelos partidos da esquerda burocrática, respaldados na tese de uma crise do pensamento socialista marxista, não dá conta dos fatos sociais mais concretos. A apatia de uma grande parcela dos oprimidos não se constitui apenas como produto da ofensiva ideológica das elites dominantes, mas se configura como o resultado de metodologias equivocadas desta mesma esquerda burocrática que prioriza os aportes da autoritária teoria da “vanguarda” e despreza o conjunto de trabalhadores precarizados e oprimidos que não está no chão de fábrica ou dentro das empresas, submetido diretamente à exploração patronal.

O MTD-RJ a partir da visualização destas contradições e ausências da esmagadora maioria da esquerda burocrática dos chamados espaços “periféricos” de luta (favelas, ocupações, assentamentos), investe na organização dos núcleos de trabalhadores desempregados nestes locais, defendendo que a mobilização dos trabalhadores e trabalhadoras aconteça em todos os espaços onde estejam sendo oprimidos, e que a constituição da organização popular seja o nosso objetivo principal. Somente através dela é que conseguiremos trabalho, moradia, dignidade e justiça. O movimento defende a autogestão dos meios de produção, a autonomia das organizações e o federalismo. Apóia todos os outros movimentos classistas que se organizem pela base trabalhadora, principalmente os que atuam de forma horizontal e antiautoritária.

A dificuldade em não reduzir as lutas a meras agendas pontuais e inserí-las num processo mais amplo de tranformação, passa por uma intensa atividade de formação que estamos nos esforçando para construir. A Universidade Popular, fórum em que também estamos presentes, conta com a presença do MTD-RJ, da Assembléia Popular, da Frente Internacionalista dos Sem-Teto e outras organizações populares do Rio de Janeiro que congregam modestamente estes esforços em seus cursos de formação política, econômica, ecológica e social.

Em harmonia com o já citado, o MTD tem realizado seus cursos de formação, atividades culturais e artísticas, apoiando a construção de projetos de geração de renda e trabalho que se articulam com as seguintes atividades: mobilização cultural a partir de apresentações de Hip Hop pelo grupo de rap Us Neguin Q Não C Kala (membro do MTD e do coletivo de Hip Hop Lutarmada) e mobilização política com cursos de formação nas Comunidades de Vila Cruzeiro, Fé e outras comunidades; mobilizações na comunidade de Costa Barros, com as atividades no Galpão “Casa das Artes Ulisses”, apoio à Biblioteca Popular Paulo Freire, ao jornal e radiodifusão comunitária “Mídia GP” e na organização de assembléias populares na comunidade do Neira; debates políticos sobre organização e mobilização cultural no bairro de Cavalcante (zona norte do Rio), em Bangu, com funcionamento de cinema itinerante, e na comunidade da Maré, com apoio ao pré-vestibular comunitário que funciona no espaço do Centro de Ações Solidárias da Maré (CEASM); ainda no apoio à mobilização política na Ocupação Guerreiros da 510 (comunidade que estava situada na Rua Gomes Freire, n.510 – Centro do Rio-RJ, despejada no mês de maio deste ano pela ocorrência de um incêndio) e Ocupação Carlos Lamarca (município de Belford Roxo – RJ). Além disso, o MTD-RJ esteve presente no excelente ato do Primeiro de Maio no Canal do Anil (2008) junto com o Conselho Popular e outros movimentos sociais, participou do Grito dos Excluídos 2008, do ato no prédio do BNDES junto com o MST (2008), apoiando as greves e campanhas dos sindicatos que lutam ao lado do movimento social, como a ocupação do EDISE e o ato na ANP junto com o SINDIPETRO-RJ (2008), brutalmente reprimida pela polícia militar; na manifestação unificada do Dia das Mulheres contra a Crise (2009); no ato unificado contra as Políticas do Governo para a Crise “Os trabalhadores não pagarão!” (2009) e na organização do Primeiro de Maio de 2009 no bairro de Santa Cruz (área dominada pelas milícias ligadas a políticos de direita e que recentemente assassinaram um militante da Assembléia Popular) e na denúncia das atrocidades cometidas pela Companhia Siderúrgica do Atrântico (CSA), contra moradores e demais trabalhadores.

Em menor grau, participamos da manifestação dos 40 anos do assassinato de Edson Luiz pela ditadura militar (2008) e da iniciativa dos estudantes na luta pela manutenção da meia-entrada, que culminou na ocupação de um cinema no bairro de Botafogo, entendendo que a solidariedade com (futuros) setores da classe trabalhadora é também fundamental para o processo de luta.

Análise da conjuntura política

Consideramos que com o governo Lula, e o ascenso de uma parcela da esquerda que acredita na mudança provocada pela conquista do aparelho estatal e da relação dependente e promíscua dos movimentos sociais com este, foi dada continuidade e aprofundamento à política de extermínio dos direitos dos trabalhadores. A partir da reforma da previdência, que levou a ampliação do tempo de serviço, a diminuição do valor das aposentadorias forçando o trabalhador a, mesmo depois de aposentado, continuar trabalhando e a política em curso de flexibilização dos direitos sociais, o trabalhador perdeu poder nas negociações por melhores salários e condições de trabalho. Aumentou assim a exploração, a desigualdade social e o desemprego. O trabalho torna-se cada vez mais precarizado e incerto e a atividade informal, talvez único refúgio do oprimido nas cidades, é brutalmente reprimida pelas polícias dos governos (Polícia Militar e Guarda Municipal).

Como se não bastasse ainda, o governo e o empresariado jogam nos ombros dos trabalhadores, desempregados ou não, o peso de uma crise econômica que não foi criada por eles. Já são milhares de desempregados, nos EUA, na Europa e no Brasil por causa da crise econômica criada pelos empresários americanos e sustentada pelo governo americano. A previsão é que esse número aumente ainda mais, pois alguns analistas afirmam que a fase mais aguda da crise ainda está por vir, o que torna ainda mais necessária a organização de todos os trabalhadores da cidade e do campo, desempregados ou não, para o enfrentamento conjunto contra as políticas e iniciativas que ameaçam a classe trabalhadora.

O que o governo oferece para o povo são as migalhas do banquete das elites, através do bolsa família, e a opressão violenta da Força de Segurança Nacional e das polícias militares que praticam uma verdadeira política de extermínio nas favelas, comunidades pobres e despejos nas ocupações. Defendemos dentro do MTD, princípio este compartilhado em consenso pelo movimento no estado do Rio de Janeiro, que a opinião dos trabalhadores traduzida nas urnas resulta em poucos resultados práticos, no sentido de alterar a condição de exploração a qual é submetida a nossa classe. Somente a partir da organização popular, traduzida em seu caráter mais claro de ação direta e enfrentamento em grandes e expressivas mobilizações, é que conseguiremos constituir a força política necessária para efetivação de nossos desejos.

LUTA! TRABALHO! DIGNIDADE!

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