Assassinatos em série no campo

Posted on 24/05/2014

0


Divulgamos aqui mais um assassinato ocorrido no assentamento Zumbi dos Palmares em Campos dos Goytacazes. Divulgamos duas notas públicas sobre o assassinato de Carmen Gilcilene Paes Pereira e sua filha. A primeira nota assinada por diversos movimentos do campo e a segunda pela Pastoral da Juventude Fluminense.

NOTA PÚBLICA

Estimados companheiros e companheiras, amigos e amigas:

Mais uma mulher assassinada! Recebemos a triste e revoltante noticia de que Carmen Gilcilene Paes Pereira, de 44 anos, foi espancada e assassinada, no Assentamento Zumbi dos Palmares, em Campos dos Goytacazes – RJ, e sua filha de 10 anos sequestrada e ainda desaparecida, no dia 15 de maio de 2014.

Esse é o quarto assassinato no Zumbi em pouco mais de um ano. Em janeiro de 2013, Cícero Guedes dos Santos, de 49 anos, Coordenador do MST, foi encontrado morto em Campos. Em fevereiro do mesmo ano, Regina dos Santos Pinho, de 56 anos, foi assassinada na região. Em fevereiro desse ano, Carlos Eduardo Cabral Francisco, de 41 anos, foi encontrado morto no canavial. Todas as vítimas eram assentadas no Zumbi dos Palmares.

O Assentamento Zumbi dos Palmares foi o primeiro assentamento do MST na região, fruto da desapropriação da fazenda São João, com aproximadamente 8.500 hectares, há 17 anos. Cerca de 510 famílias estão assentadas no local. Gilcilane vivia no Zumbi desde o início do Assentamento. Ela morava e produzia no lote da família.

Desde nossas organizações – Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra – MST, Comissão Pastoral da Terra – CPT e Via Campesina Brasil, nos declaramos indignados e revoltados com essa notícia que atingiu a mais uma Mulher Trabalhadora Rural, violência que vem sendo frequente na região, especialmente nesse Assentamento. Esperamos que as autoridades policiais e judiciais não meçam esforços para encontrar, julgar e penalizar os assassinos e responsáveis por tal barbárie.

Assim também, como reivindicamos mais uma vez a ação investigadora e protetora do Estado brasileiro para com as famílias que vivem nas áreas de assentamentos da região, pois não podemos permitir que os territórios dos trabalhadores e das trabalhadoras sejam espaços de atuação da bandidagem.

Assinam as Entidades:

Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra – MST;
Comissão Pastoral da Terra – CPT;
Via Campesina;
A Pastoral da Juventude Rural – PJR – Fluminense;
O Movimento dos Pequenos Agricultores – MPA;
e NERU/UFF

—————————————————————————————————

NOTA DE REPÚDIO

Campos dos Goytacazes, 20 de maio de 2014

A equipe da Pastoral da Juventude Rural – PJR Fluminense vem através desta note responsabilizar o Estado brasileiro em suas diferentes representações federativas no que diz respeito à segurança e a manutenção da vida plena de cidadãos, camponeses e camponesas, crianças e jovens vulneráveis nos territórios campesinos a partir da ausência de políticas públicas que promovam e garantam a dignidade humana e o respeito à diversidade.

Mais uma jovem, Sem-Terra foi assassinada brutalmente no norte fluminense, município de Campos dos Goytacazes no Rio de Janeiro região caracterizada por mais de 20 assentamentos, grandes estoques de terra, concentração fundiária, escolas rurais fechadas e abandonadas. Isabela era filha da classe trabalhadora rural assentada, uma jovem linda, que sonhava com uma terra livre dos males da humanidade que aprisionam pessoas e as objetificam como coisas, obstáculos a serem transpostos, diante do grande projeto de acumulação e concentração da terra na era do neodesenvolvimentismo.

A jovem Isabela era fruto de um projeto de vida camponesa, de lutas, conquistas, persistências na reforma agrária clássica, que apenas distribuiu e regularizou a terra, mas não garantiu direitos. No entanto, Isabela sonhava com uma escola que valorizasse sua vida, que estudasse a sua história de luta do povo do campo, num mundo de oportunidades conquistados pela juventude camponesa a partir de suas lutas através de estatutos, marcos regulatórios, entre outras conquistas.

Em tempo, anunciamos o nosso compromisso pastoral com o clamor dos povos jovens da terra que Isabela será lembrada pela PJR como um girassol em sua força e nunca nos calaremos e sonho de luz que anima a juventude.

Pastoral da Juventude Rural Fluminense.