A Crise do Governo Esquerdista: Escândalos de Obviedades, ou Decepção para quem, Cara Pálida?
Federação Anarquista do Rio de Janeiro (FARJ)
Já passam dos sessenta dias que não se ouve falar em outra coisa na cidade. A crise do governo Lula está dando mais ibope do que qualquer novela da Janete Clair. Desde os regozijos dos socialdemocratas de plantão, colunistas dos jornais de maior circulação pública, num chato e sub-reptício “…então, quando votei no Covas…” ou “será que agora o PT vai aprender a ser menos autoritário?” eaté “eu não tive nenhuma dificuldade para me adaptar a política do PT, eu não mudei, o PT mudou…” dito por bocas coligadas e neoliberais. Afinal, o que temos a dizer deste circo “trash”? Certamente que não serão dicas de especialistas para superar a “desilusão e falta de esperança” que, por ora, sofre o povo em função desta “grave crise institucional”, tal como fez uma revista nestas patéticas semanas (povo este que, por certo, não pode dispor dos irreais que ganha a preço de duro suor para comprar esta revista). Fato é que, não hipotecamos nossos princípios políticos como fez esta esquerda socialista e, portanto, nada temos com esta crise.
Isto porque no princípio anarquista de organização política nunca esteve presente à proposta de compor as bases de uma estrutura hierárquica e presidencialista, representada num Congresso eleito através da sórdida máquina partidária. Mesmo em 2002, para desgosto absoluto da esquerda unida como nunca para eleger Lula, nós estávamos lá, fazendo nossa campanha pelo voto nulo. Citamos:
“O Estado, o governo, sejam quais forem a forma, o caráter ou a tendência, quer seja autoritário ou constitucional, monárquico ou republicano, fascista, nazi, ou bolchevique, é pela sua própria natureza, conservador, estático, intolerante e oposto à mudança. Se ele evolui positivamente às vezes é por, submetido a pressões suficientemente fortes, ser obrigado a operar a mudança que se lhe impõe… Além disto, o conservadorismo inerente à autoridade, sob as suas formas, torna-se inevitavelmente reacionário. Duas razões para isso: a primeira, é que é natural para o governo, não somente resguardar o poder que se detém, mas também reforçá-lo, expandi-lo e perpetuá-lo no interior e no exterior de suas fronteiras… A psicologia governamental impõe uma influência e um prestígio em constante aumento, nacional e internacionalmente, e ela aproveitará todas as ocasiões para engrandecer. Os interesses financeiros e comerciais que sustentam o governo que os representa e serve, motivam esta tendência.” (Emma Goldman).
Nesta direção, é evidente que tampouco acreditamos na eficácia da representação indireta. Ao contrário, nossas propostas de estruturação da vida política coletiva se pautam no respeito incondicional a voz do outro. A participação constante e efetiva do indivíduo que compõe uma realidade social é o que nutre as transformações sociais a que nos propomos. Haja vista as ocupações urbanas. Ninguém melhor que o indivíduo que vive a diária ausência das condições mínimas de uma vida digna, posto que seja constantemente humilhado por este sistema de poder, no qual historicamente lhe são negados seus direitos a educação, assistência médica e moradia, para saber exatamente quais são os melhores caminhos para sua comunidade. Afinal, seus impostos servem para quem?
Teorias econômicas para todos os gostos e partidos estão a justificar racionalmente a submissão do homem a circunstâncias miseráveis de existência. Planejamentos em longo prazo para uma vida que é finita. Realmente, não temos que suportar. Ação direta já!