Nas últimas duas décadas as escolas brasileiras foram alvo de 24 ataques – pelo menos dez desses ataques aconteceram somente de 2022 para cá. Essas práticas são estimuladas e organizadas pela extrema direita que vem, mais recentemente, ganhando força na sociedade brasileira. As ações mais recentes foram os atentados em escolas públicas e numa creche particular.
Os ataques também geram terror psicológico, impulsionado com as constantes ameaças de massacres em várias unidades escolares e a difusão de fake news. Em praticamente todos os casos pode-se presenciar materiais nazistas/neonazistas com os autores dos atentados, ou apologia à extrema direita em publicações virtuais. O avanço do bolsonarismo, desde 2016, não é coincidência nesse contexto.
A resposta das autoridades para o enfrentamento destas barbáries tem sido investir na repressão da própria juventude, direcionando emergencialmente o investimento público para colocar policiais e guardas municipais para vigiar e enquadrar estudantes como potenciais terroristas, além de soluções “inovadoras” como o “botão do pânico”, e mais câmeras de monitoramento do ambiente escolar. Mais uma vez, os investimentos direcionados para “dar conta” do problema são revertidos na intensificação de políticas que comprovadamente não são efetivas no combate destas violências, que impactam profundamente o desenvolvimento escolar, psicossocial e na formação crítica da adolescência que se forma.
Essas políticas públicas ignoram o que motiva e como ocorrem atentados como esses ao despolitizar e individualizar a questão sem abordar suas questões estruturais. Há uma profunda crise social, econômica e cultural, que atinge fortemente crianças e adolescentes, e a própria educação básica. Uma crise estrutural do capitalismo, que cada vez mais destrói os laços sociais e comunitários, isola os indivíduos, e é, portanto, um prato cheio para a difusão dos discursos reacionários e de ódio.
A cooptação pelos grupos de extrema direita se dá através de padrão comportamental e social: jovens inseridos em esferas de mídia social fortemente masculinistas/machistas; histórico de insegurança provocado por bullying e/ou contexto de violência familiar; isolamento e solidão; sentimento de injustiça social; defesa de armamento e uma “identidade militarizada”… assim como, no acontecimento de atentados/assassinatos, as vítimas é que são colocadas como “culpadas” pelo ocorrido com elas. Todo esse processo de cooptação, manipulação e construção de um pensamento repleto de ódio e frustração, são direcionados para minorias sociais, como: mulheres cis e trans; pessoas LGBTQIAP+; pessoas com deficiência e/ou neurodiversas; como, também, pessoas não brancas/racializadas.
Majoritariamente são jovens com perfis cisgêneros, heterossexuais e brancos, que se sentem não recompensados pelo sistema social… em outras palavras, não se trata de atos praticados por homens ricos, mas por adolescentes e jovens que buscam justificar sua violência por não colherem os poderes que acreditam “merecer”, como a posse sexual das mulheres, enquanto objeto destinado para o prazer e reprodução, assim como, também, possuem a ideia de que a (cis)heterossexualidade é natural e qualquer outra forma de orientação sexual/identidade de gênero são patológicos; a superioridade racial (intelectual e da aparência), onde surge a exaltação de “teorias” próximas das que foram defendidas e difundidas pelos adeptos do nazifascismo – tendo, próximo dessa lógica de cooptação, as propagações das ideias redpill, macho alfa, etc.
São jovens que através de grupos na internet compartilham ideologias de extrema direita acreditando existir hierarquias naturais na sociedade e que as políticas sociais aos mais pobres e demais minorias sociais criariam injustiças à essas hierarquias, destruindo a “lógica natural da vida”.
Enquanto o ambiente escolar convive com o desprezo aos estudantes, a falta de recursos, a precarização do ensino e a desvalorização dos profissionais, são fortalecidas estratégias políticas que promovem o medo, perpetuam o terror, aumentam o valor desses atos para esses grupos de ódio, aprofundam o desastre social e acabam por justificar a violência policial contra a juventude. Se sabemos quem a polícia tem identificado como “suspeito” e “terrorista” na rua – nas escolas, espaço de tanto valor social, devemos esperar diferente?
Neste momento tão sensível, apontamos a necessidade do fortalecimento da própria comunidade escolar como o único caminho possível para tornar a escola um ambiente saudável. É a mobilização ativa entre estudantes, famílias e trabalhadores/as da Educação que poderá transformar as relações sociais. Também colocamos a urgência do enfrentamento ao discurso de ódio e à extrema direita, na construção de uma sociedade igualitária e livre de quaisquer opressões. É na construção cotidiana de novas relações sociais nos locais de trabalho, estudo e moradia que conseguiremos superar esse tipo de tragédia social!
Coletivo Mineiro Popular Anarquista (COMPA)
Federação Anarquista do Rio de Janeiro (FARJ)
Organização Anarquista Socialismo Libertário (OASL)
Rusga Libertária (RL)
Posted on 21/04/2023
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